quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Mulher que seria Sakineh aparece na TV estatal negando que tenha sido torturada


Uma mulher identificada como Sakineh Mohammad Ashtiani, 43 --condenada à morte por apedrejamento devido a adultério-- apareceu na TV estatal nesta quarta-feira negando que tenha sido torturada ou espancada pelo governo. A iraniana teria sido punida com 99 chibatadas em 2 de setembro, depois que o jornal britânico "Times" publicou uma foto sua com a cabeça descoberta. A fotografia era falsa e o jornal teve que pedir desculpas.



"Não fui torturada, de forma alguma", disse a mulher que seria Sakineh na entrevista. "Ninguém me forçou a aparecer neste programa e tudo o que eu disser estou dizendo porque quero", afirmou ainda a mulher, cuja imagem foi exibida distorcida pela rede de TV.


O caso envolvendo Sakineh causou polêmica internacional, com vários países condenando a sentença e o tratamento dado à mulher. Foi a segunda vez que ela apareceu na TV. A primeira foi em agosto, quando confessou que teria sido cúmplice no assassinato do marido. Na ocasião, seu advogado, Javid Houtan Kian, disse que suspeitava que ela teria sido torturada para que confessasse o crime na TV.



De acordo com seu advogado, não houve mudanças no caso desde que a sentença foi suspensa, em julho. Ele diz que Sakineh nunca foi levada a julgamento nem teve direito de defesa.



Mãe de dois filhos, Sakineh foi condenada pela primeira vez em maio de 2006 a receber 99 chibatadas por ter um "relacionamento ilícito" com um homem acusado de assassinar o marido dela. Sua defesa diz que ela era agredida pelo marido e não vivia como uma mulher casada havia dois anos quando houve o homicídio.



Mesmo assim, ela foi, paralelamente à primeira ação, julgada e condenada à morte por adultério. Ela chegou a recorrer da sentença, mas um conselho de juízes a ratificou, ainda que em votação apertada --3 votos a 2.



Diplomatas iranianos afirmam que foi encerrado o processo de adultério e que a mulher é acusada "apenas" pelo assassinato do marido.



Os juízes favoráveis à condenação de Sakineh à morte por apedrejamento votaram com base em uma polêmica figura do sistema jurídico do Irã chamada de "conhecimento do juiz", que dispensa a avaliação de provas e testemunhas.



Assassinato, estupro, adultério, assalto à mão armada, apostasia e tráfico de drogas são crimes passíveis de pena de morte pela lei sharia do Irã, em vigor desde a revolução islâmica de 1979. O apedrejamento foi amplamente utilizado nos anos após a revolução, mas a sentença acabou em desuso com o passar dos anos.



Sob as leis islâmicas, a mulher é enterrada até a altura do peito e recebe pedradas até a morte.



CRÍTICAS



A Anistia Internacional (AI) qualificou na semana passada de "insuficiente" a suspensão da condenação à morte por apedrejamento da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, e anunciou que continuará a fazer denúncias para que a condenação da mulher seja "alterada completamente" pelo governo de Teerã.



"Esperamos que não seja apenas um ato cínico das autoridades iranianas para que as críticas internacionais diminuam", disse o diretor da AI na Espanha, Esteban Beltrán. Ele disse ainda estar preocupado que a suspensão possa estar relacionada com a inclusão de acusações pela morte do marido de Sakineh.



"Mais do que nunca, a pressão internacional deve ser ainda mais forte, para que a suspensão progrida para o cancelamento da pena de morte, e para que não sejam fabricadas acusações contra ela relacionadas à morte de seu marido", disse ainda Beltrán, ressaltando que a suspensão é "temporária" e a qualquer momento "pode ser revogada".



O chanceler alemão, Guido Westerwelle, disse em um comunicado que está "profundamente preocupado" com a vida de Sakineh.



"O Irã deve respeitar os direitos humanos, principalmente porque o país está comprometido com as leis internacionais", disse Westerwelle. "Não é uma questão de religião, mas de dignidade humana".




 
FONTE: UOL / DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

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