sexta-feira, 6 de maio de 2011

França resgata primeiro corpo de 

destroços de avião da Air France




A polícia francesa anunciou o resgate do primeiro corpo içado dos destroços do avião da Air France que caiu no Atlântico em 2009.

"Submerso durante quase dois anos a uma profundidade de 3,9 mil metros, o corpo, ainda preso ao assento do avião, está deteriorado", diz um comunicado da Direção Geral da Polícia Militar francesa (DGGN, na sigla em francês).

As autoridades militares, que realizam as tentativas de resgate dos corpos do avião da Air France, informaram que "os restos mortais de um dos passageiros foram levados a bordo do navio Ile de Sein no início da manhã desta quinta-feira".

"Coletas foram efetuadas pelos investigadores da polícia a bordo e serão encaminhadas na próxima semana, juntamente com as caixas-pretas do avião, a um laboratório de análises a fim de determinar a possibilidade de uma identificação por meio do DNA", acrescenta a DGGN.


Condições 'inéditas'

O comunicado afirma ainda que a tentativa de resgate dos corpos está sendo efetuada em condições "particularmente complexas e inéditas".

"Grandes incertezas continuam existindo em relação às possibilidades técnicas de levar os corpos à superfície", diz o texto.

Segundo os especialistas, os corpos podem não resistir às mudanças de temperatura da água durante o içamento.

Além disso, a fortíssima pressão da água a quase 4 km de profundidade mantém a estrutura corporal coesa na água.

A diminuição da pressão, quando o corpo é içado, pode causar o deslocamento dos ossos, disse recentemente à BBC Brasil o coronel François Daust, diretor do Instituto de Pesquisas Criminais da Polícia Militar francesa (IRCGN, na sigla em francês).


Famílias

O resgate dos corpos divide os familiares das vítimas. Alguns preferem que os restos mortais de seus parentes sejam deixados no local do acidente e consideram que o resgate seria "uma violação de suas sepulturas".

Oito membros da polícia militar francesa estão a bordo do navio Ile de Sein, entre militares da polícia dos transportes aéreos, marítima e do Instituto de Pesquisas Criminais da Polícia Militar, especializado na identificação de vítimas de catástrofes.

O resgate de corpos está sob a responsabilidade da Justiça francesa. O acidente com o avião da Air France, que fazia a rota Rio e Paris, matou 228 pessoas.

Apenas 50 corpos foram encontrados logo após o desastre, sendo 20 deles de brasileiros.

A operação para tentar levar os corpos a superfície foi iniciada na quarta-feira.

O navio Ile de Sein, que realiza a quinta fase de buscas, durante a qual as caixas-pretas do avião da Air France foram localizadas, está a cerca de 1,1 mil quilômetros da costa brasileira.





FONTE: UOL / BBC-BRASIL
 Por que os EUA anunciaram várias versões sobre a morte de Bin Laden?


Na última segunda-feira (2), o governo Obama disse que Osama Bin Laden havia sido morto após um tiroteio com os comandos Seals da Marinha dos Estados Unidos e que ele havia usado a própria mulher como escudo humano. 

Na terça-feira, o governo anunciou que Bin Laden não estava armado e que a sua mulher não fora usada como escudo, mas investira contra os homens que atacavam o seu marido e fora ferida na perna.

Na quarta-feira, o governo norte-americano apresentou mais uma nova versão. Desta vez ele disse que, na verdade, não houve um violento tiroteio durante a invasão, e afirmou que apenas uns poucos tiros foram disparados pelo mensageiro de Bin Laden no início da operação que durou 40 minutos, e que o mensageiro foi morto rapidamente pelas tropas de elite.


Mas o que de fato aconteceu?


Segundo autoridades de presidências passadas e da atual, o que houve foi uma colisão clássica entre o desejo da Casa Branca de anunciar uma retumbante vitória da segurança nacional – e de alimentar com isso uma mídia ansiosa por notícias – e os relatos coletados sobre os fatos ocorridos durante uma caótica operação militar no outro lado do mundo. 

Ao mesmo tempo, autoridades da Casa Branca se empenharam em utilizar os fatos relativos à operação para minar o legado de Bin Laden.

“Jamais houve qualquer intenção de enganar ou dramatizar”, disse na quinta-feira um oficial militar, que pediu que o seu nome não fosse divulgado por causa das regras impostas pelo Departamento de Defesa. “Nós de fato acreditávamos em tudo o que anunciamos naquele momento.”

Tommy Vietor, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, afirmou que à medida que os membros da equipe de assalto, composta de 79 indivíduos, relatavam a sua versão sobre o ataque, foram ocorrendo inevitavelmente revisões de toda a história.

“O que tivemos foi uma operação frenética, no meio da noite, em um país estrangeiro. Houve tiroteio. Os relatos prestados pelos indivíduos que participaram vão se esclarecendo mais conforme são feitas mais entrevistas com eles”, disse Vietor. “O que nós fizemos foi disponibilizar para vocês, da imprensa, a maior quantidade de informações disponíveis o mais rapidamente possível, e corrigir os erros o mais rapidamente que podíamos”.

Mas a mudança constante de versões pode ter prejudicado a imagem da façanha da equipe dos Seals e despertado suspeitas, especialmente no mundo árabe, de que os Estados Unidos possam estar tentando ocultar certos fatos relativos à operação, incluindo o de que Bin Laden estava desarmado.

“Isso teve um impacto enormemente negativo”, afirma Ahmed Rashid, jornalista e escritor especializado no Taleban e no islamismo radical. “A Casa Branca deixou-se tomar nitidamente por um excesso de entusiasmo”.
“Os muçulmanos liberais que veem com bastante simpatia a morte de Bin Laden realmente não sabem o que pensar sobre isso”, afirmou ele. “A história apresentada pelos norte-americanos é muito confusa”.


Na Europa, até mesmo o arcebispo de Canterbury se meteu na polêmica.

Em uma entrevista coletiva à imprensa na quinta-feira (05/05), o reverendo Rowan Williams afirmou que o assassinato de um homem desarmado o deixou com uma sensação “desconfortável” e que “as diferentes versões sobre os acontecimentos que emergiram nos últimos dias não ajudaram muito”.

Muitas das discrepâncias da Casa Branca tiveram origem no homem que há quinze anos faz parte da caçada a Bin Laden, John Brennan, o assessor de contraterrorismo do presidente.

“O que vimos foi Bin Laden, que vinha pedindo esse tipo de ataque, morando em um complexo de mais de um milhão de dólares, em uma área bem distante da frente de batalha, escondido atrás de mulheres que foram colocadas na frente deles como escudo”, disse Brennan em uma entrevista coletiva à imprensa na Casa Branca na segunda-feira. “Eu acho que isso comprova o quanto a narrativa dele tem sido falsa no decorrer de todos estes anos.”

Mas a Casa Branca modificou no dia seguinte as afirmações de Brennan sobre os escudos humanos, e reportagens da mídia indicam que o suposto valor de um milhão de dólares da casa de Bin Laden na afluente localidade de Abbottabad foi bastante exagerado. O governo manteve a sua versão quanto a esse valor, mas a agência de notícias “The Associated Press” informou que os quatro terrenos originais que foram aglutinados para criar o complexo foram comprados por US$ 48 mil em 2004 e 2005.

Autoridades do governo disseram ter se sentido na obrigação perante a mídia e a população de divulgar informações sobre o ataque após o discurso do presidente na noite de domingo, anunciando a morte de Bin Laden. 

Elas disseram que estavam ansiosas por divulgar os fatos antes que os paquistaneses e a poderosa agência de espionagem do Paquistão, a Diretoria de Inteligência Inter Serviços, ou ISI, fornecesse os seus próprios fatos e interpretações dos acontecimentos.

“Será que nós achamos que seria bom que a ISI fosse a primeira a dar a notícia?”, questionou retoricamente uma autoridade do governo, em uma alusão ao fato de que as autoridades do governo norte-americano acreditam que alguns elementos da ISI podem ter vínculos com Bin Laden e com o Taleban afegão.

Mas as pessoas que possuem as melhores informações sobre a operação, os membros dos Seals, só passaram por entrevistas detalhadas depois que retornaram aos Estados Unidos, disse uma autoridade congressual. Essa autoridade afirmou que os comandos Seals retornaram à sua base, foram dormir, acordaram na manhã de terça-feira, e só então teve início o extenso processo de entrevistas.

Não se sabe se as primeiras informações sobre a operação tiveram como origem conversas rápidas com membros dos Seals, com os seus comandantes ou com outras pessoas envolvidas. Mas na quinta-feira autoridades afirmaram que todos os membros do governo dos Estados Unidos – na Casa Branca, no Pentágono e na Agência Central de Inteligência (CIA) – estão trabalhando com as mesmas informações.

Profissionais da área de relações públicas de governos anteriores mostraram, em geral, simpatia para com a equipe de Obama. “Eles viram-se em uma situação difícil”, disse Victoria Clarke, porta-voz do Pentágono durante o primeiro mandato do presidente George W. Bush. “Os primeiros relatos são sempre errados. Esta é uma verdade fundamental quando se trata de questões militares”.



FONTE: UOL / THE NEW YORK TIMES / Elisabeth Bumiller - Em Washington D.C. (EUA) / Tradução: UOL