Governo egípcio anuncia medidas de abertura, recusadas pela oposição
O governo egípcio, encurralado, desculpou-se nesta quinta-feira pela violência dos ataques da parte de apoiadores do presidente Hosni Mubarak contra manifestantes na praça Tahrir, no Cairo. E anunciou medidas de abertura, mas a oposição negou-se ao diálogo atéque ditador seja afastado.
O chamado à demissão imediata do presidente Hosni Mubarak é um "apelo ao caos", declarou o vice-presidente egípcio Omar Suleiman, ao convocar o país ao diálogo, na véspera de novas manifestações.
Os protestos previstos para esta sexta-feira, tradicionalmente dedicada às preces muçulmanas, farão parte do "Dia da Despedida", em alusão à desejada renúncia do presidente.
A Irmandade Muçulmana, principal força da oposição e apenas tolerada pelo governo, foi convidada a participar de conversações entre o poder e a oposição.
"A Irmandade Muçulmana foi contatada e convidada ao diálogo. Mas eles estão hesitantes", disse Suleiman durante uma entrevista à televisão estatal, no 10º dia de uma onda de contestação sem precedentes.
"A Irmandade Muçulmana rejeita categoricamente qualquer diálogo com o regime sem qualquer hesitação", afirmou o porta-voz Mohammed Mursi, em comunicado no site do grupo, em resposta à oferta feita.
"As pessoas derrubaram o regime, e não há sentido em qualquer diálogo com um regime ilegítimo", completou o grupo.
Confrontos entre partidários e opositores do presidente Mubarak fizeram, desde quarta-feira, na praça Tahrir, no centro do Cairo, oito mortos, segundo novos números divulgados pelo ministério egípcio da Saúde, citado pela agência oficial Mena.
O primeiro-ministro, Ahmed Shafiq, desculpou-se pela onda de violência que prometeu "investigar".
Shafiq disse, inclusive, estar "disposto a se dirigir nesta sexta à praça Tahrir (da Libertação) para conversar com os manifestantes" - o que representa uma mudança de tom do governo, desde o início dos protestos, em 25 de janeiro.
Segundo o vice-presidente, todos os partidos aceitaram participar do diálogo, exceto o Wafd (liberal) e o Tagammou (esquerda), da oposição legal, mas que não têm peso maior.
"Acho, no entanto, que nos encontraremos muito em breve", afirmou Suleiman, acrescentando que os "independentes" e "personalidades" também tomaram parte no diálogo, junto com representantes dos jovens, mas não deu mais detalhes.
A confraria islamita anunciou que rejeitava o fato de Hosni Mubarak permanecer na chefia do Estado até o final de seu mandato, em setembro, apesar de o presidente ter afirmado que não se apresentaria a um sexto mandato.
Os islâmicos são o maior e mais organizado grupo no Egito, mas foram banidos como partido político, e seus seguidores concorrem nas eleições como independentes.
Eles são frequentemente presos por conta de suas atividades políticas, e seu envolvimento em qualquer tipo de diálogo com o governo representaria uma enorme mudança na política do país.
A Irmandade Muçulmana, fundada em 1928, chegou a obter 88 cadeiras nas eleições legislativas de 2005. Em 2010, perdeu sua representação parlamentar, depois de retirar-se das eleições entre o primeiro e segundo turno, alegando fraude.
Suleiman e o primeiro-ministro Ahmad Chafic haviam anunciado um início de diálogo na manhã desta quinta-feira, mas a principal coalizão opositora rejeitou as negociações.
Mais cedo nesta quinta-feira, o vice-presidente anunciou, em nota lida pela televisão, que o filho de Mubarak não se apresentaria às eleições de setembro no Egito, em mais uma tentativa de acalmar a oposição que teme a ascensão de Gamal ao poder.
Mohammed Aboul Ghar, um porta-voz da Coalização Nacional pela Mudança, que se constituiu em torno de Mohamed ElBaradei e conta entre seus membros a Irmandade Muçulmana e o Movimento Kefaya (Basta), também frisou a rejeição a qualquer tipo de diálogo, antes da partida do presidente Hosni Mubarak.
"Nossa decisão é clara: nenhuma negociação com o governo antes da saída de Mubarak. Depois disto, estaremos prontos a dialogar com Suleiman", informou ele à AFP.
FONTE: AFP