sábado, 14 de agosto de 2010

Pesquisas mostram indícios de que paracetamol aumenta casos de asma em crianças


Dois estudos levantaram indícios de que o analgésico paracetamol - mais conhecido como Tylenol - pode estar alimentando um aumento mundial de asma.

Segundo uma das pesquisas publicada na quinta-feira (12), a substância poderia ser responsável por pelo menos quatro em cada dez casos de asma grave em adolescentes.

Enquanto ninguém sabe se a droga causa a asma por si só, um outro relatório --publicado junto com o primeiro estudo-- mostra pela primeira vez que muitas crianças tomavam paracetamol antes de desenvolverem sintomas como respirar com dificuldade.


'Nós confirmamos que o uso do remédio veio em primeiro lugar, portanto uma relação de causalidade é cada vez mais provável', disse Alemayehu Amberbir, da Universidade de Addis Ababa, na Etiópia, e da Universidade de Nottingham, no Reino Unido.

Antes que alguém limpe seu armário de remédios, testes clínicos devem ser feitos em larga escala, ressaltou Amberbir, cujas descobertas estão publicadas no American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine.

A equipe do pesquisador acompanhou mais de 1.000 bebês da Etiópia ao longo de três anos. Quando as crianças completaram um ano, os pesquisadores perguntaram às mães se seus bebês tinham problemas respiratórios e quanto paracetamol tinham tomado.

Cerca de 8% das crianças começaram a ofegar com idades entre um e três anos. Aquelas que tinham tomado paracetamol no primeiro ano - antes da dificuldade para respirar - tinham até sete vezes mais chance de desenvolver asma.

O aumento se manteve mesmo após o ajuste para febre e tosse, que em princípio poderiam ter provocado tanto a dificuldade de respirar quanto o uso de analgésicos.

'O que temos são informações e uma forte associação entre o uso de paracetamol e asma', disse Dipak Kanabar, que escreveu orientações sobre analgésicos, mas não esteve envolvido no estudo novo.

Mas Kanabar, pediatra consultor Hospital Infantil Evelina, em Londres, advertiu que a lembrança dos pais nem sempre são precisas, o que poderia ter influenciado os resultados.

"Nós temos que ser cuidadosos quando damos conselhos aos pais e salientar que estes estudos não significam que o consumo do paracetamol resultará necessariamente no desenvolvimento da asma", disse ele.

Mas se a relação se tornar real, pode haver um impacto importante na saúde pública, de acordo com outro relatório do American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine.

Nesse estudo, baseado em mais de 320.000 adolescentes de 50 países, 11% das crianças tinham dificuldade para respirar - apenas um pouco mais do que a porcentagem de crianças americanas que têm asma.

Aqueles adolescentes que tomaram paracetamol pelo menos uma vez por mês - um terço dos analisados mundialmente, e mais de quatro em cada dez americanos - duplicaram suas chances de asma.

Eles também eram mais propensos a ter congestão nasal alérgica e eczema, relatou a equipe de Richard W. Beasley, do Instituto de Pesquisa Médica da Nova Zelândia.

Os investigadores estimam que o paracetamol poderia ser responsável por até quatro em cada dez de todos os sintomas da asma, inclusive graves, como acordar ofegando uma vez por semana ou mais.

O laboratório McNeil Consumer Healthcare, que vende o Tylenol, disse em uma nota que seu produto "tem mais de 50 anos de história clínica para provar sua segurança e eficácia. O perfil de segurança bem documentado faz do analgésico o preferido para quem sofre de asma".

A empresa disse que há ensaios clínicos padrão que mostram que não existe relação de causalidade entre o paracetamol e a asma.

No entanto, Kanabar encontrou em sua revisão da literatura médica que o ibuprofeno - outro analgésico às vezes vendidos como Advil - pareceu provocar menos dificuldades de respiração do que o paracetamol.

No entanto, o ibuprofeno não é recomendado a pessoas com asma, disse Kanabar, e a maioria dos médicos receita Tylenol.

A aspirina, outro analgésico comum, é geralmente desaconselhada a crianças, pois pode causar problemas respiratórios a curto prazo e outros efeitos colaterais raros.

De acordo com Kanabar, deixar de dar analgésicos às crianças é provavelmente uma má ideia e elas podem se sentir pior e beber menos líquidos, o que poderia retardar a recuperação.

Na hora de escolher entre o tylenol e o ibuprofeno para combater a febre ou dor de cabeça do filho, Kanabar disse que "pode ser qualquer um".



 
 
FONTE: FOLHA ONLINE / DA REUTERS
 
Notícia publicada em 13/08/2010.

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